Como o Kendo me ajudou na esgrima histórica européia.

4 de setembro de 2020 por André Traichel

Nossa formação

O Kendo caminho da espada – é a arte marcial moderna referente a esgrima japonesa. Só de falar nisso, a imagem do samurai e todo o seu código de moral e conduta já vem à nossa mente.

Esta arte é exatamente isto: muito mais do que apenas golpear com a espada, o Kendo ensina conduta, etiqueta e uma busca à perfeição do golpe limpo. Mas isto não vem se um esforço monumental e muita disciplina!

E é exatamente aí que entra a esgrima histórica. Ou melhor, o quê – no meu ponto de vista – o HEMA pode aprender com o outro lado do mundo.

Antes de eu começar os estudos com a espada longa italiana, minha experiência com armas brancas se iniciou com o Kendo, na cidade de Canoas/RS. Isto foi em 2015 e apesar da distância, tenho tentado me manter no caminho. Claro, com mãos vazias já são mais de 30 anos, mas isto é lá na AKIRS

Kendo em Canoas/RS
Treino na Ulbra, Canoas 2015

Nos treinos no dojo, uma rotina rígida é seguida pelos alunos. Uma das características mais visíveis para quem pratica é a repetição. Veja bem, não são poucas às vezes em que nós repetimos o mesmo golpe 20, 30 vezes em sequência. Se falarmos em suburi então, a conta pode passar de 100 fácil.

Então o que se tem é uma estrutura de treino, começando por aquecimento, treino do fundamento, trabalho em dupla e por fim o shiai, a luta em si. Tudo isto seguindo uma hierarquia de graduação e diligência da prática.

O que a HEMA pode aprender com o Kendo?

Esta é uma pergunta que me foi feita durante minha apresentação no Encontro Gaúcho de Esgrima Histórica deste ano. E é algo válido a se perguntar, afinal este resgate histórico é algo novo e ainda com muito a trilhar, principalmente aqui no Brasil. A resposta veio da minha experiência em ambas: muita coisa!

Treino em 2016, Marcos Trindade sensei, vice-campeão brasileiro.

Veja bem, acredito que cada grupo, sala d´armas e instrutor sabe do seu trabalho, mas aqui vou enumerar 3 idéias que para nós da Prudentia temos como norte:

  1. estrutura do treino: como comentei mais acima, existe um cronograma dentro de cada treino e aqui seguiremos a mesma lógica: fazer o aquecimento, treinar os fundamentos, praticar em dupla estes fundamentos e depois, fazer a prática de forma segura;
  2. repetir, repetir e repetir: para que o movimento se torne preciso, fluído e automático, a repetição é chave do sucesso. Existe toda uma estrutura neural que se forma com este processo que agiliza e muito a coordenação motora. Ok, sei que haverão alunos que acharão isto chato e demorado, mas para quem quer a maestria no movimento, não tem outra forma;
  3. programa de aprendizado: no Kendo, assim como outras artes marciais japoneses como o Karate-do e o Kobudo (armas antigas de Okinawa), tudo tem o seu tempo de aprender. Você não pode simplesmente sair querendo aprender a fazer sequências de ataque e defesa sem saber o mínimo de guardas ou mesmo como empunhar uma espada. Isto deve ser elaborado e seguido por quem ensina.
Oficina de Kendo em nossa sede, 2018.

Por fim, acredito fortemente que podemos tirar muito boas lições de artes mais antigas e que estão firmes ao longo dos séculos para nos servir de referência. Claro, cada coisa no seu lugar, mas olhar a grama do vizinho pode trazer boas inspirações…